Eu quero meu bloco na rua
Em ano eleitoral, marchinhas do carnaval de BH aproveitam temas políticos para contestar em meio à folia
Bruno Mateus - Ragga
"O Collor vai ganhar uma passagem pra sair desse lugar. Não é de trem, nem de metrô, nem de avião, é algemado no camburão, êta Collor ladrão!”, cantavam, em 1992, no processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor, parodiando a famosa marchinha Saca-rolha, aquela do “as águas vão rolar”. Gênero predominante dos carnavais brasileiros da primeira metade do século passado, antes de os sambas-enredo ganharem espaço, as marchinhas também são uma forma bem-humorada e eficaz de apimentar a discussão. Em ano eleitoral, então, não faltam composições que satirizam políticos e até lambanças gastronômicas. Uma denúncia com ingredientes pitorescos, uma piada pronta. Assim, o compositor e produtor musical Flávio Henrique classifica a notícia de que o presidente da Câmara Municipal, Léo Burguês (PSDB), teria usado R$ 62 mil de verba de gabinete com lanches no bufê de sua madrasta.
O professor e produtor musical Renato Villaça viu uma frase no Facebook do amigo João Basílio. “Começa com ‘m’ e termina com ‘erda’”, dizia o post. Num estalo, Renato resolveu pegar a ideia e compor Marcha da estação, segunda colocada no concurso, em “homenagem” ao prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB). A coisa se espalhou, ganhou as manchetes de sites país afora e, nos dois primeiros dias na internet, o áudio com a música já tinha 2 mil cliques. Oração a São Patrus é outra marchinha composta por Renato, que vê a oportunidade de, não só brincar, mas levar à reflexão. Não é mera coincidência que as três marchinhas premiadas no concurso tenham cunho político. Belo Horizonte vive tempos em que o debate se faz necessário. Luiz Rocha musicou a letra do jornalista e escritor Paulinho Assunção e assim nasceu La plaza de la estación, outro tema ligado ao movimento Praia da Estação e que ficou no terceiro posto do concurso. Luiz, que interpretou Noel Rosa no espetáculo Chico Rosa, que fantasia o encontro entre o sambista e Chico Buarque, diz que o tema poderia até ser aleatório, mas não dá para deixar de fora a política: “O povo está insatisfeito e a comédia é a arma mais forte para botar o dedo na ferida”. Pelo visto, o carnaval este ano promete.
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